Curadoria

Esta não é apenas uma exposição de arte. Antes, Preza! é uma imposição de cultura. Com isso, quero dizer duas coisas. Primeiro, o conjunto de produções aqui oferecido não “coloca” nada “para fora”, não “ex-põe” nada. Ao contrário, e de certo modo, “coloca para dentro” algo que é externo, “in-pondo”, diametralmente, não só uma alegada franquia estética da rua à instituição, mas também, a essa visualidade supostamente franqueada, os institutos inerentes à galeria, à universidade e à própria arte. E que não se presuma desta dupla “in-posição” nenhum clichê de “bom” ou de “mau”, pois nessa “in-portação” não há quaisquer chancelas de valor. [Aliás, a origem das palavras impor e importação é a mesma de importância: do verbo latino in-portare, referindo-se a “levar” ou “carregar” algo – no caso, da cidade – “em” ou “para” – no caso, a universidade – numa ação que é significante.] Segundo, a importante importação daqueles muros aqui impostos a estas paredes, como assim prezada, não é mais do que uma invocação reflexiva do tipo de manifestação criativa espontânea e popular que ultrapassa (e muito) o campo específico da arte.

Trata-se, portanto, de uma amostragem (impositiva) e não de uma mostra (expositiva). É uma porção, embora pequena e exclusiva, muito representativa de todo um vasto variado da nossa cultura visual metropolitana. Com ela, pretende-se apenas vislumbrar prospectivamente a importância dessa vastidão e dessa variedade da rua no contexto específico da academia. Nem é uma espécie de escaparate erudito para a imageria urbana (não há vitrine que supere as ruas), nem algum tipo de estandarte diletante para o discurso acadêmico, embora exiba uma e profira ooutro. Entre a rua e a academia, Preza! não é sobre a estética da primeira, tampouco sobre aeidética da segunda, mas sobre a dialética do “entre”.

Ora... que afirmações como a de Leon Tolstoi – que definia arte em 1897 como “um meio de união entre os homens” – ou a da cineasta iraniana Mania Akbari 123 anos depois – “arte está entre nós; arte é diálogo profundo” – acabem encontrando alguma coincidência em Preza!... será mais do que mera semelhança. Então, só força; que se a preze.

 

Waldir Barreto
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